Muito mais que uma simples mochila de viagem

Ela não é bonita. Também não é de marca conhecida, não custou uma fortuna nem veio equipada com funcionalidades de dar inveja. Foi comprada às pressas, em uma terça-feira qualquer de um shopping qualquer de São Paulo.

As mochilas de viagem são importantes companheiras de aventuras
As mochilas de viagem são importantes companheiras de aventuras

Inicialmente, o que essa mochilinha preta tinha de especial eram só as rodinhas, de modo que pudesse ser puxada, além de colocada nas costas. Mas, aos poucos, ela foi se mostrando singular. E acabou sendo tratada com muito mais atenção do que merece uma simples mala. Motivo: ter me acompanhado por quase três meses durante uma estada na Alemanha.

No quarto que foi meu por aqueles 80 dias, ela não foi guardada e esquecida em um armário como ocorria com a coitada no Brasil. Lá, tinha lugar certo: em frente à cama, debaixo da fria janela, mas junto de um potente aquecedor. Estava sempre pronta para a sexta-feira, quando era o dia de mudar de ares para me acompanhar nas viagens de fim de semana pela Europa.

A mochila estava sempre pronta para as viagens de fim de semana
A mochila estava sempre pronta para as viagens de fim de semana

Lá íamos nós a pé por exatos dois minutos até o ponto de ônibus e por mais 11 minutos até a estação central de trem. A mochilinha preta de rodinhas era puxada então por horas e horas, até o cair da noite, em lugares como Berlim, Colônia, Frankfurt, Bruges, Bruxelas, Luxemburgo e até em meio à multidão, à cantoria e à bebedeira da Oktoberfest em Stuttgart.

Depois, a pequena mochila aguentou firme ser entulhada de roupas só para continuar como minha acompanhante numa viagem a Barcelona. E, todo domingo à noite, depois de muitos e muitos trens, era colocada de volta em frente à cama, bem visível, pronta para mais uma nova jornada.

Mochilas de viagem parecem insaciáveis
Mochilas de viagem parecem insaciáveis

Durante a semana, entretanto, a mochila preta ficava quieta no cantinho reservado a ela no quarto. Estava ali, me observando, enquanto eu me enfiava de cabeça nos estudos de alemão, enquanto os novos amigos iam visitar a “nova” casa e enquanto sacolas e mais sacolas de compras iam ocupando o dormitório.

Mas chegou a hora de a pequena grande mochila voltar ao Brasil. Era preciso tirá-la do seu lugar de conforto e fazer com que nela coubesse muito mais do que o dicionário de alemão e o guia sobre a Alemanha que ela carregava no voo da ida. E aí a tal da malinha foi obrigada a voltar ao seu devido espaço em São Paulo. Meio relegada de novo: dentro de um armário, esquecida até que viesse a viagem seguinte. E veio.

Ela foi o primeiro item a ser separado para ir a Aruba. Contudo, eu não queria que aquela mala mudasse de ares, agindo como uma pré-adolescente que não lava o rosto quando recebe um beijo na bochecha do primeiro amor. Queria que, mesmo depois de ter sido limpa, a mochila continuasse com a poeira, um certo rasgo e todas as marcas daquelas boas e mais recentes andanças. Mas eu devia deixar de lado o egoísmo. Ela já havia experimentado a sensação de ser o centro das atenções, e então me olhava, insaciável, como que perguntando: “E aí, qual será a nossa próxima viagem?”.