Feira de Arles, o charme da França com o tempero da Espanha

Com a chegada da primavera no hemisfério Norte, começa o período mais intenso das festas populares aqui na Europa. São as festas tradicionais e históricas das cidades,  em que dá pra viver de verdade o clima do lugar, conhecer sua história, provar seus sabores, ouvir sua música e conviver com sua gente.

Quem está planejando uma viagem para Europa de agora até o setembro, recomendo pesquisar festas populares nos destinos escolhidos ou próximo a eles. Tem muita coisa interessante. Para citar apenas alguns exemplos, tem a festa do Palio em Siena, Itália, a festa da lavanda em Salt, Provence e a festa cigana de Santa Sara em Saint Marie de La Mer, também na Provence, França; o São João no Porto e a festa medieval de Óbidos, em Portugal, a Feira do Cavalo em Jerez de La Frontera, em Andaluzia, Espanha. Muitas delas tem origem medieval ou religiosa e são oportunidades de se viver uma experiência única.

A Feira da Páscoa em Arles, na Provence,  é uma dessas festas. Começa sempre na sexta feira santa e vai até a segunda-feira após a Páscoa.

É um evento que atrai gente de toda Europa. A cidade fervilha com bandas de música pelas ruas, as pessoas dançam e bebem Mouresque, uma bebida refrescante feitas de anis, típica dessa região. A manhã avança e Paellas enormes vão sendo preparadas ao ar livre. Opa, isso mesmo, estamos na França, mas parece Espanha.  Uma Espanha francesa ou uma França espanhola. O flamenco é ouvido a todo volume nas ruas, assim como os Gipsy Kings, que são de Arles. É uma fusão cheia de charme. E de festa, com direito a taças de champanhe compradas nas barraquinhas montadas na Place du Forum.

Arles é uma joia de cidade, tombada pela Unesco como patrimônio da humanidade. Foi dominada por celtas, gregos e depois romanos, que a transformaram numa pequena Roma na Gália. A partir de 46 AC se tornou uma colônia onde residiam veteranos de legiões que conquistaram Marselha. A colonização romana foi responsável por grande parte da sua grandiosidade arquitetônica, produzindo monumentos belíssimos e ruínas que podem ser visitadas. No século 19 Van Gogh viveu ali entre 1888 e 1889 e produziu 187 pinturas. Muitos consideram esse o seu período mais criativo, no qual pintou Girassóis, Noite estrelada, e o café amarelo da Plaçe do Forum, que funciona até hoje e agora se chama Café Van Gogh. Essa região atraiu vários outros impressionistas como Cezanne e Gaugin, por sua luz e suas cores.

Durante a Feira, o cheiro do anis impregna o ambiente e se pode tomar um mouresque no Bar L’Aficion, o ponto de encontro para quem quer ver o movimento ou só apreciar a beleza da arena de Arles, construída no ano 90 AC. É um pequeno coliseu, o mais bem conservado da França junto com o de Nimes. Funciona até hoje para eventos como shows e corridas de touros que acontecem nesse período, quando se podem ver os toureiros saindo da porta principal carregados nos ombros da multidão. Sentar-se nas suas arquibancadas de pedra degastada é um convite para se transportar a outro mundo e a outra época.

A noite a festa não para. Até a madrugada há gente de todas as idades nas ruas ou nos clubes noturnos, chamados de bodegas. Dá para ir parando em várias delas, já que não se paga nada pra entrar. Cada uma tem diferentes tipos de música e na Les Andalouses, que fica numa impressionante igreja gótica desconsagrada,  tem tablado flamenco onde qualquer um pode se arriscar a dançar Sevilhanas.

E de repente, a meia-noite, tudo para e começa o hino à Nossa Senhora do Rocio, tocado bem alto e com a letra projetada nas paredes, para que todos cantem. E todos cantam mesmo, com emoção e chamas flamejantes de isqueiros acendidos. É uma imagem surpreendente e linda.

Vale a viagem. E se gostou e não quiser esperar até a próxima Pascoa, vá a Arles na Feira do Arroz (Féria du Riz), que acontece de 9 a 11 de setembro de 2016, que tem o mesmo estilo, mas com um clima muito melhor de fim de verão.

Texto e fotos por Ariane Landim