As ‘quatro mil ilhas’ do rio Mekong, no Laos

Quem viaja pelo Sudeste Asiático constantemente precisa encarar os engarrafamentos de tuk tuks, a multidão e a poluição sonora, mas nem sempre precisa ser assim. Os cênicos campos de arroz, as crianças sorridentes e o pôr do sol cinematográfico que habitam o imaginário de quem planeja as férias no continente existem de verdade. Basta saber onde procurar.

Si Phan Don é um desses lugares. As “quatro mil ilhas” às quais o nome original remete, são as porções de terra que surgem no rio Mekong, no extremo sul do Laos junto à fronteira com o Camboja. O rio emblemático, que nasce no Tibet e atravessa a China, Myanmar, Laos, Tailândia, Camboja até morrer no Vietnã, é a cara do Sudeste Asiático, com seus mercados flutuantes, búfalos, barcos de pesca, rice paddies e milhares de vilas que crescem às suas margens, cada uma com sua cultura e tradição.

O arquipélago de Si Phan Don é formado por ilhas de todos os tamanhos, muitas são tão pequenas que passam a estação de chuva inteira submersas. Outras são grandes o suficiente para terem se tornado ponto de encontro de viajantes que buscam sentir o gostinho da Ásia bem longe do caos das cidades grandes. É o caso de Don Khon e Don Det, as ilhas mais famosas do Laos, onde o tempo parece andar mais devagar e a vida é tão sossegada que dá preguiça até de ir embora…

A única preocupação por lá será escolher onde ficar

Os dias nas ilhas se resumem a pedalar, boiar rio abaixo, comer um Laap, assistir ao por do sol acompanhando de uma Lao Beer e finalmente descansar na rede da varanda do seu quarto. No dia seguinte, repetir tudo de novo. Para aqueles que vencerem a preguiça generalizada que se instala entre os visitantes, ainda é possível fazer passeio de barco para ver os botos (Irrawaddy dolphins, como são chamados), descer o rio de caiaque e também explorar as cachoeiras de Don Khon.

A essa altura, já deu pra perceber que ambas as ilhas são pequenas e tranquilas, sem carro nem buzina. Don Khon e Don Det são ligadas por uma charmosa ponte e separadas por uma agradável caminhada ou pedalada. Na hora de decidir em qual das duas se hospedar, leve em consideração se você gostaria de aproveitar a vida noturna, mesmo que vagarosa como é de se esperar, e assim evitar pedalar de volta ao hotel depois de uma ou outra cervejinha (ou pior ainda, depois um bolo “mágico”, if you know what I mean…).

Don Khon (não confundir com Don Khong, a maior ilha do arquipélago e sem grandes atrativos) é onde ficam as cachoeiras Li Phi e Khone Phapheng, o pequeno templo Wat Khon Tai e também a maioria dos restaurantes e hotéis de melhor qualidade. É a ilha mais tranquila e onde se tem uma experiência mais próxima às comunidades locais.

Aí você me pergunta, porque alguém iria querer ficar em Don Det? Bom, é lá que ficam as opções mais baratas de estadia, inclusive albergues e campings, e, consequentemente, os mochileiros. Os bares na beira do rio são convidativos para apreciar por do sol e também garantem a cervejinha da noite dos mais animados. A praia do rio, aonde chegam os barquinhos vindo do continente, é um convite para o mergulho e ponto de encontro dos viajantes.

Mas não importa onde você decidir passar a noite, a infraestrutura limitada nas ilhas é uma bênção que garante que o clima por lá jamais fique como outros backpacker hubs do sudeste asiático. Si Phan Don é um lugar para deixar o relógio e o guia de viagem de lado e simplesmente aproveitar o que Laos tem de melhor: a paisagem, a simplicidade e a falta de pressa. Quem procura um destino visualmente parecido, mas todo trabalhado na ‘porralouquice’, pode sempre seguir viagem rumo a Viang Vieng, a cidade festeira mais improvável do Laos.

Como chegar

Ônibus e vans de turismo partem de Pakse rumo a Ban Nakasang, próximo à fronteira com o Camboja, de onde saem os barcos para as ilhas. Quem está vindo do Camboja pode pegar um ônibus de Phnom Penh ou Siem Reap e encarar longas horas de estrada até Ban Nakasang. Não vale a pena viajar apenas até a fronteira para depois descolar um transporte do outro lado, já que o posto de imigração é no meio do nada e pode levar uma eternidade até aparecer alguém por lá.

Onde ficar

A oferta limitada de hotéis facilita a vida na hora de escolher a estadia. Tenha em mente que as opções mais baratas – e são muito baratas –estão ali para atender aos mochileiros com M maiúsculo, ou seja, uma turma nem um pouco exigente. Se seu orçamento permite, vale a pena gastar um pouco mais e garantir um chalézinho que te dê tranquilidade para curtir a paz do lugar.

Nós tivemos a sorte de ficar no Crazy Gecko, um restaurante delicioso em Don Det que também possui alguns quartos anexos. A vista para o rio e a decoração charmosa atraem visitantes o dia todo, inclusive à noite, mesmo estando um pouco afastado do “centro”.

Não se esqueça

Não há caixas eletrônicos em nenhuma das duas ilhas, mas é possível trocar dinheiro. Caso seja realmente necessário sacar uma grana, é possível alugar barquinhos até o continente.

O calor é de lascar, então use e abuse do protetor solar e das águas do Mekong. Ah, e não se esqueça do repelente.

De resto, é só relaxar e curtir a boa vibe…

Por Clarissa Ferreira, do A Culpa é do Fuso