Jovem viaja para a Amazônia com apenas R$ 20 no bolso

Por: Redação

Sim, parece meio louco, eu sei. Mas, se não fosse tão louco, talvez não teria sido tão bom.

Com uma índiazinha da tribo Dessana

Antes de começar, gostaria de me apresentar. Meu nome é Hugo, tenho 27 anos, moro em São Paulo, sou engenheiro de produção e, após uma desilusão na carreira, resolvi mudar de vida. Aquela rotina de casa-escritório-e-escritório-casa já não me satisfaziam há muito tempo, porém eu nunca tive coragem realmente de abandonar tudo e viver a vida que eu sempre quis: viajando e conhecendo lugares e pessoas.

Após uma demissão no trabalho, resolvi mudar. Algo dizia que eu não deveria mais voltar a fazer algo que não me fazia feliz apenas por dinheiro. Sendo assim, sofri durante algum tempo, pois, a partir do momento que eu decidi que iria viajar, levei uns seis meses para realmente levantar do comodismo e partir.

Foram muitos obstáculos: amigos, parentes, colegas. Tudo e todos conspiravam contra. Todos me achavam louco (e ainda me acham) por eu tomar aquela atitude. Muitos disseram que eu estava querendo fugir da realidade e todo aquele blá-blá-blá negativo. Enfim, como eu disse, sofri muito durante esse tempo até finalmente tomar a decisão de ir, uma vez que, além de todos esses percalços, ainda teria que deixar para trás a pessoa que amava.

Em busca de aventuras no rio Negro

Sempre fui apaixonado pela Amazônia, pelos documentários e histórias que ouvia de lá, como também sou um grande fã de natureza. Por isso, apesar das muitas opções que tinha para escolher, decidi usar o pouco dinheiro que tinha para aplicar para uma experiência através da Worldpackers para uma cidade chamada Iranduba. Apliquei para a vaga e, dois meses depois, o tão esperado dia havia chegado.

O que acontece é que eu havia me planejado para poupar grana. Cheguei a vender algumas coisas que tinha para poder me manter lá. Mas, como eu expliquei antes, acabei demorando muito tempo para decidir para onde ia e, quando chegou o grande dia, restavam-me apenas R$ 20 e a passagem de ida comprada. Eu não poderia mais desistir, havia sonhado por tanto tempo com aquilo e não poderia deixar passar aquela oportunidade. Lá fui eu, com apenas uma nota no bolso, pegar o voo de ida para Manaus.

A adrenalina tomava conta de mim. Eu, que nunca havia viajado sozinho, estava indo para um lugar totalmente desconhecido, com medo e sem dinheiro. Mas eu sabia que aquela era a minha hora, que precisava ir. Ao chegar em Manaus, fui muito bem recebido pela família Arawak. Senti-me em casa e isso me deu mais tranquilidade. Como eu sabia que não ia ter custo com alimentação e nem hospedagem por conta da oportunidade através da Worldpackers, sentia um certo conforto.

Cozinhando para a turma do hostel

Os dias foram passando e eu fui conhecendo melhor as outras pessoas que estavam realizando essa mesma experiência que a minha. Com isso, fui percebendo que aquelas preocupações que tinha antes eram coisa da minha cabeça. Conheci pessoas totalmente desprendidas do mundo material, que viviam apenas com uma mochila e eram muito mais felizes do que eu. Naquele momento, percebi que a vida é muito mais do que eu já tinha vivido até aquele momento. Que o que realmente importava eram as coisas simples da vida.

Vivi também outras culturas pois, além de mim, haviam viajantes da Venezuela, Colômbia, Eslováquia, Estados Unidos e Argentina. Todo dia era um dia novo e único. Havia uma troca e uma aproximação entre nós muito grande. Todos nos ajudávamos, tal qual fosse a língua falada ou com as tarefas diárias.

Como eu não tinha dinheiro, sabia que não ia poder realizar passeios e conhecer lugares fora dali. Porém, como havíamos ajudado a terminar de construir o restaurante do hostel, na festa de inauguração do mesmo, fomos presenteados com um belo passeio. Conhecemos uma tribo indígena, nadamos com os botos e pescamos piranhas no Rio Negro. Uma recompensa que jamais vou esquecer!

Nadando com os Botos

Além de turistar pela cidade de Manaus no meu último dia, esses foram os meus únicos passeios turísticos, mas não me arrependo de nada. O que vivi dentro do hostel não se tem e não se encontra em lugar algum. Só quem já teve essa experiência sabe do que eu estou falando. É sensacional.

Vocês devem estar se perguntando: mas o que você fez com os R$ 20? Bom, na minha penúltima semana, ouvi dizer que na cidade de Manaus havia um bar sertanejo muito bom e que eu devia conhecer. Adivinhem o preço da entrada? Exatos R$ 20,00, parecia destino. Como sempre fui muito fã da música sertaneja, convidei o Carlos, voluntário colombiano para ir comigo. Conseguimos uma carona e lá fomos nós, na caçamba de uma caminhonete durante 40 km até chegar ao destino.

Curtimos o lugar, mas não contávamos com o fato de o bar fechar tão cedo, sendo que havíamos combinado de pegar a carona de volta às 8h. A solução encontrada foi dormir em um posto, no chão mesmo, até que nossa carona chegasse.

Pôr do sol inesquecícel no rio Negro

Foram momentos memoráveis, mas que infelizmente tiveram que ser adiados, já que precisei voltar por motivos pessoais. Desde então, não tenho parado de pensar nas coisas que posso aproveitar e conhecer nesse mundo e, logo, logo, pretendo viajar novamente, usando a Worldpackers. No momento, estou me preparando para ir sem dinheiro também, mas estou adquirindo conhecimento em alguns trabalhos manuais para que eu possa me manter durante as próximas viagens.

Espero que minha história inspire você. Todos nós, um dia, deveríamos ter essa experiência. Isso não está nos livros, na televisão e em nenhuma mídia e, por mais que eu descreva aqui, você só vai realmente sentir essa sensação de liberdade na hora que resolver se jogar e deixar acontecer.

Relato pelo Worldpacker Hugo Mazetto