O relato surpreendente de um sonho

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Alasca
Foto: Thiago Berto[/img]

Em algum dia do ano de 2009 trancado em uma sala de reuniões com meus sócios tomamos uma decisão muito importante profissionalmente. A decisão foi que iríamos colocar o pé no freio. Ou melhor, desacelerar. Trabalhar menos, moldar o negócio para gerar apenas o necessário para que pudéssemos seguir nossos sonhos e proporcionar qualidade de vida a todos envolvidos na empresa.

E não apenas vender mais e mais, faturar e crescer como se isso de verdade fosse nobre e significasse algum tipo de competência e sucesso.
Essa decisão significou, viajar menos a trabalho, cancelar contratos com clientes, menos reuniões, menos negócios apenas por status, menos parcerias insalúbres, menos stress. Profissionalmente e pessoalmente foi a melhor decisão que tomei na vida até então.

 
 

Como falei, o caminho até esse dia que estou aqui escrevendo esse relato foi um processo. E talvez ele foi disparado por essa decisão de trabalhar menos, viver com mais qualidade e aceitar as condições e o “preço” disso.

Em 2011, 2 anos depois, resolvi fazer uma viagem ao Tibet, Nepal e Butão, e de certa forma nunca mais “voltei”. Quando estava subindo a montanha rumo ao monastério Tiger Nest no Butão (um dos cartões postais desse maravilhoso país), tomei a decisão de voltar ao Brasil, vender tudo que tinha, e viver no Himalaia como voluntário.

 
 

Retornei ao Brasil alguns dias depois, fazendo todos os planos durante o vôo. Vendi, minha parte na empresa que havia fundado com 19 anos de idade, apartamento e carro. Doei móveis e utensílios,  e fui morar no Butão trabalhando como voluntário para o governo real. Após 6 meses vivendo no alto da cordilheira do Himalaia, no chamado país da felicidade, comecei a viajar pelo mundo.

Esse não é um relato apenas de turismo,  ainda que eu seja grato a cada vez que aprecio algum lugar, não viajo para ter reconhecimento ou para desfrutar de paisagens. Vejo Deus em tudo, e para mim a beleza do mundo já esta nisso.

De verdade não me importam os países, as fronteiras e as diferenças étnicas. Somos uma única família, vivendo em um planetinha beeem pequeninho, e ainda assim maravilhoso. Um verdadeiro presente.

 
 

Viajo nesse momento para aprender, por que daqui pra frente, até o dia que eu for “embora”, apenas quero ser útil, inspirar e fazer algo bom no mundo. É minha hora de retribuir. Pois sou grato e sempre vou entender que o universo (ou Deus) foi muito generoso comigo. É comum um pensamento adjacente ao ler relatos de viagem: “A puxa! Esse rapaz deve ter família rica, é fácil tomar a decisão de viajar, etc”
De fato com 30 anos eu percebi que tinha o suficiente para tomar a decisão de “sair do sistema”. O suficiente para mim não significa que eu já tinha muito, mas que eu reconheci que podia viver com pouco.

Comecei minha própria empresa com 19 anos sem nenhum tostão no bolso. Fui expulso de casa pelo meu pai aos 16 anos e por três anos aprendi sozinho sobre redes de computadores trabalhando em empresas do ramo. Esse conhecimento permitiu que eu criasse meu próprio negócio cedo. Ter uma empresa e relativo sucesso, para mim foi um motivo de gratidão, porém nunca fui iludido, ou apegado. Por que o mais fácil é amarrar-se à tudo isso, viver distraído com o reconhecimento social e com o desejo de ter sempre mais. Para mim pelo contrário, por algum motivo, o qual honro muito, mesmo sem compreende-lo bem, mais sucesso só gerava um sentimento de grande vazio.

 
 

Mas por que viajar tanto?

Decidi vender tudo que tinha e sair a viajar principalmente para ter um tempo olhando de “fora”. Viajando você é mais autêntico. Você tira a máscara que precisa usar no seu cotidiano, para principalmente ser aceito nos grupos sociais que frequenta (trabalho, futebol, universidade etc).
A primeira “etapa” de minha viagem que completou agora 2 anos e meio, teve mais essa intenção. Me conhecer, saber quem eu sou, o que gosto e amo de verdade, e não me definir pelo que escolhi defender: Qual cor eu gosto, qual partido político, time de futebol, banda. Essas escolhas, não são “eu”.

 
 

A segunda parte de minha viagem foi conhecer e observar o mundo. Sim, turismo, horas de ônibus pensando, filosofias com gente de todo lugar, e até festas. Você tem que experimentar o absurdo para conhecer a “graça”. A divindade da vida.

 
 

Agora estou com minha energia voltada a terceira etapa. Que é a de visitar projetos sociais, escolas alternativas, comunidades ecológicas. É a etapa do aprender mais racional. Me preparar para ser útil na prática. Para servir. Por que é esse o meu sentido de viver. Já que não penso em comprar o carro do ano. Estou tratando de construir os sonhos que escrevi no início.

Em setembro de 2013 fui ao Alasca, comprei uma moto Honda 150cc de um brasileiro que havia deixado-a lá (é uma longa e divertida história) e estou viajando pelas américas com a “motinho” visitando comunidades ecológica e projetos alternativos de educação pelo continente. Agora estou em uma parada no Peru visitando amigos e logo sigo viagem até Porto Alegre.

 
 

Tem que ter muita coragem para fazer isso! Tem que ter dinheiro também. Um dia se der eu farei o mesmo que tu fez!

Escuto bastante essa frase das pessoas que encontro.

Eu não quero ser um conselheiro, sou apenas um rapaz de 33 anos tentando viver a vida com gratidão e aproveitar esses dias aqui. Tomei uma decisão a algum tempo atrás de seguir em minha vida basicamente três fundamentos “Liberdade, vida simples e serviço”. Aceitei o preço dessa decisão. Para mim, são coisas tão antagônicas, a vida, liberdade, meu tempo…e o dinheiro, que não posso compará-los ou trocar um pelo outro.

O que eu tentar expressar é com a ideia de ser um entusiasta no coração de cada um que estiver lendo agora, cada um tem seu próprio caminho por seguir nessa vida e cada caminho sempre está perfeito.

 
 

Ter coragem é agir com o coração!
A palavra já diz Core + actum do latim. Agir com coração!

Quando tu se emociona com algo, algo que ame, que goste, que tenha sentido, você se torna corajoso. Há também a sorte não é? Acredito que a sorte seja o resultado de um estado de espirito de gratidão e um bom senso de oportunidade. O universo gosta de quem é grato ao que já tem. E quando você sabe o que quer, você liga um “radarzinho” pra qualquer oportunidade que te leve àquilo. E quando você não sabe ainda o que quer, você pode usar a coragem e o entusiasmo para se permitir experimentar.

Experimentar a vida é vive-la!  Há um medo que tempera, que dá um gosto especial à vida, mas ele não pode te bloquear.

 
 

Vale a pena arriscar! É no arriscar que as portas se abrem. É lá que esta a magia, o diferente, onde as coisas acontecem. Na segurança, não conseguimos nada.

Se você arriscar seguindo suas intuições, fazendo as coisas com carinho, com dedicação (não gosto da palavra esforço), com ética e principalmente com fé de que tudo vai dar certo. O que tiver que acontecer pelo teu bem, vai acontecer.

Eu sinto esse medo bom, dúvidas, incertezas. Ótimo! Pois é disso que a vida é feita. A certeza e a convicção não me ensinam nada!

 
 

O dia pra você fazer algo diferente, pra tomar uma grande decisão, pra mudar, chega. Na vida a gente tem tempo de plantar, e quem sabe seja teu momento agora, de plantar, construir uma estrutura que te permita fazer uma grande aventura, realizar teus sonhos, ajudar o mundo.

Ainda que você esteja agora construindo essa realidade, criando essa segurança ou base, em algum momento de sua vida, terás que arriscar e conviver com o incerto. Aceitar perder o controle. Em realidade creio que nunca o possuímos e um comportamento controlador perante a vida só estressa a mente e frustra a alma.

 
 

Para quem já tem o suficiente para viver bem, simples e com conforto. Eu lhe pergunto: O que você esta fazendo com teus dias? Por que quer mais? Do que você tem medo?

O segredo acredito é perceber quando já é suficiente.

Não ficar apegado e escravo dos desejos por coisas materiais e mais e mais dinheiro. Por que a vida vai passando.

Então torço que você tenha sucesso. Financeiro que seja. E que perceba, logo, cedo, quando é o suficiente. E então seja mais criterioso como usa seu tempo, suas habilidades. Para quem, para que objetivo às “vende”.

E no caminho até esse ponto, viva. Por que não tem uma vida lá adiante. Tudo é agora! O momento!

 
 

Sempre lembro e me inspiro nessa passagem de Tolstói que é mostrada no filme “Na natureza selvagem”:

“Eu já vivi muita coisa e agora acho que descobri o que preciso para ser feliz. Uma vida calma e sossegada no campo com possibilidade de ser útil a pessoas as quais é fácil fazer o bem, que não estão acostumadas a serem servidas e trabalho que se espera ser útil. Depois descanso, natureza, livros, música, amor pelo próximo. Essa é a minha idéia de felicidade. E aí, acima de tudo isso ter você como companheira e filhos talvez. O que mais o coração de um homem pode desejar?”

Tolstói”

Descubra sua alegria de viver!
Com carinho

Thiago Berto no blog Vagabundo Profissional.